segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O PT apoia isso: Oposição é barrada nas eleições legislativas da Venezuela

Ex-deputada e ex-prefeito impedidos de concorrer à Assembleia Nacional prometem desafiar veto

Manifestante protesta contra o cerco à oposição em Caracas: pesquisas mostram MUD com a preferência dos venezuelanos e chances de tomar o controle da Assembleia a quatro meses das eleições legislativas - FEDERICO PARRA / AFP/20-6-2015



BUENOS AIRES — Nesta segunda-feira, começará na Venezuela o processo de inscrição dos candidatos que participarão das eleições legislativas do próximo dia 6 de dezembro, teste decisivo para o enfraquecido governo do presidente Nicolás Maduro, às voltas com uma crise econômica cada vez mais grave.

Com todas as pesquisas apontando uma clara e expressiva vantagem da oposição, nas últimas semanas a Controladoria Geral da República impugnou candidatos de peso da Mesa de Unidade Democrática (MUD), usando, segundo dirigentes opositores, “recursos absolutamente ilegais” para impedir sua participação no pleito.
O boicote afetou, entre outros, o ex-prefeito de San Diego, no estado Carabobo, Enzo Scarano, o candidato mais votado nas primárias realizadas pela MUD recentemente. Também foi inabilitada a deputada cassada María Corina Machado, uma das dirigentes mais ativas da aliança opositora.
Ouvidos pelo GLOBO, ambos confirmaram sua decisão de continuar lutando para defender suas candidaturas, mas, também, de designar candidatos substitutos, que serão inscritos na próxima semana.
Os dois dirigentes questionaram a atitude do governo Maduro em relação à observação internacional, na mesma semana em que o presidente venezuelano afirmou que “a Venezuela não será monitorada por ninguém”.

Segundo María Corina, atualmente proibida de sair do país por uma série de processos abertos pelo governo e pelo presidente da Assembleia Nacional (AN), o militar reformado Diosdado Cabello, “teremos a eleição mais fraudulenta de nossa História”.
Confira a entrevista com a deputada María Corina Machado aqui. E a entrevista com Enzo Scarano aqui.

‘Fazem de tudo para nos derrotar, mas não vão conseguir tirar nossos votos’, diz ex-prefeito venezuelano

Após passar por prisão, Enzo Scarano diz que regime chavista é pior do que ditaduras





Depois de ter passado dez meses preso e, segundo revelou, ter sido surrado e tratado com violência por agentes penitenciários, o ex-prefeito do município de San Diego, Enzo Scarano, é um dos candidatos mais populares da Mesa de Unidade Democrática (MUD) nas próximas legislativas. Scarano foi o candidato mais votado nas primárias da MUD e, pouco depois, a Controladoria Geral da República o impediu de disputar uma vaga na Assembleia Legislativa, alegando demora na apresentação de sua declaração patrimonial. O ex-prefeito acusou o presidente Nicolás Maduro de estar “usando todos os poderes do Estado para impedir a participação de nossos candidatos”. Seguindo a mesma estratégia que María Corina Machado, o dirigente escolheu uma candidata substituta e garantiu que nas próximas legislativas “a oposição conquistará a maioria parlamentar”. Sua passagem pela prisão lhe deixou sérios problemas de saúde e um trauma pela “maneira violenta como fomos tratados por esta ditadura com fachada democrática”.


O senhor ficou surpreso pela impugnação de sua candidatura?

Nada mais me surpreende. Estou concorrendo há mais de 11 anos e nunca fui derrotado, sempre ganhei com mais de 70% dos votos. Só conseguiram me derrotar me colocando numa prisão, com uma sentença inconstitucional. As Nações Unidas determinaram que minha sentença foi irregular, que sou um perseguido político. Participei das primárias, fui o candidato mais votado e uma semana depois o controlador da República me inabilitou por 12 meses, que é a sentença máxima.
Qual foi o motivo?
Dizem que não apresentei minha declaração de bens quando fui destituído pelo Tribunal Supremo de Justiça. Me prenderam no dia 19 de março (de 2014) e no dia 10 de abril foi informada minha sentença. A partir desse dia, temos um mês para apresentar a declaração, coisa que fiz, em 7 de maio do ano passado. Agora dizem que os 30 dias começam a ser contados no dia da prisão, um absurdo, e por isso estão derrubando minha candidatura. Para impugnar uma pessoa deve existir uma sentença firme e um crime, mas nada disso existe aqui.

O senhor vai continuar apelando da decisão do controlador?
Claro que vou. Não estão respeitando a vontade do povo. Essa questão da declaração é do ano passado e só agora perceberam isso? Justo depois de minha vitória nas primárias? Estão querendo desaminar a oposição, mas já tenho uma candidata substituta, vamos disputar seja como for. Cada golpe que nos dão nos fortalece. O povo não acredita mais neste governo. Usam todos os poderes do Estado para nos derrotar, mas não vão conseguir tirar nossos votos. Nas 20 eleições do chavismo, sempre ganhei em meu distrito, por isso me perseguem.
Como foram os dez meses na prisão?
Fui surrado, isolado de minha família, sem poder ter acesso a meus médicos. Saí antes da prisão porque estava sangrando, quase com uma infecção e nunca permitiram o acesso de meus médicos. Ainda estou me recuperando, com um cisto na próstata. Também perdi parte de minha dentição, sofri maus-tratos psicológicos, e o trauma que fica é grande. Muitas noites éramos agredidos pelos guardas, atiravam excrementos em mim, Leopoldo López e Daniel Ceballos (ex-prefeito de San Cristóbal). Foi horrível e ainda vivemos com medo. O governo fechou empresas de minha família, nos perseguem o tempo todo, é desesperador.
O senhor é dos que falam em ditadura...
Sim é pior do que as ditaduras dos anos 70. Naquele momento os ditadores não escondiam ser ditadores. Hoje, Maduro fala em democracia, mas atua como ditador. A Venezuela está na OEA e na ONU, mas não cumpre suas resoluções. E a região observa isso em silêncio, porque existem interesses que estão acima dos direitos humanos.
Qual é sua expectativa em relação às eleições legislativas?
Acho que vamos ganhar a maioria da Assembleia Nacional. Cada dia o país está pior. Se ganharmos, no ano que vem recuperaremos o estado de direito, os direitos humanos, teremos novamente um país com confiança, com os mesmos direitos judiciais para todos. A Constituição voltará a ser cumprida. Se o governo não reconhecer o resultado, sairemos às ruas para exigir que o faça.




fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/oposicao-barrada-nas-eleicoes-legislativas-da-venezuela-17054752

http://oglobo.globo.com/mundo/fazem-de-tudo-para-nos-derrotar-mas-nao-vao-conseguir-tirar-nossos-votos-diz-ex-prefeito-venezuelano-17054938

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