segunda-feira, 21 de abril de 2014

A crônica de uma tragédia anunciada (parte 3)

foro_de_sao_pauloForo de São Paulo: como tudo começou
A ascensão da esquerda na América Latina tem um marco histórico: o Foro de São Paulo, realizado pela primeira vez em 1990. A ideia da criação do evento foi de Fidel Castro. Na ocasião, o ditador cubano buscava outra fonte de renda para manter seu regime, uma vez que, com a queda do bloco comunista, a ilha tinha perdido a “mesada” dos soviéticos. Portanto, para Fidel, o Foro representava uma esperança de recuperar, na América Latina, pelo menos um pouco do que foi perdido com a derrocada do leste europeu, uma questão de sobrevivência para Cuba.
O PT comprou a ideia e passou a financiar o projeto castrista de unificar os esforços de todos os partidos de esquerda, sindicatos, associações comunitárias e até grupos terroristas como as Farc da Colômbia e o MIR do Chile.
As ações coordenadas deram resultado. Depois de 8 anos, o Foro conseguiu eleger o primeiro presidente pela via democrática: Hugo Chaves. Desde então, o Foro tem colecionado vitórias em toda a América Latina, a ponto de José Dirceu recentemente gabar-se de ter ajudado a eleger 14 presidentes no continente (hoje já são 16).
Apesar de já ter realizado 19 edições do evento em vários países, o grupo conservou o nome que faz referência à cidade de São Paulo, um nome neutro que, durante muito tempo, ajudou a camuflar seus reais objetivos.
Mas o que há de errado em promover um encontro anual de organizações de esquerda?
É, realmente não teria problema nenhum, caso tal projeto não tivesse uma estratégia granscista de tomada do poder, de forma gradativa, subvertendo a democracia, via conquista da hegemonia da opinião pública. Uma conquista que não prevê a alternância do poder, um dos pressupostos básicos da democracia, mas a perpetuação no poder a qualquer custo.
Um outro ponto que cabe ressaltar é a ironia que tudo isso representa, pois uma das características principais da esquerda em todos os lugares do mundo é  alertar sobre um suposto “ente conspirador de direita” sempre à espreita, planejando golpes em toda a parte. Acontece que eles, os esquerdistas, são os que sempre estiveram organizados internacionalmente para implementar ditaduras em todo mundo, desde a primeira Internacional Comunista até o Foro de São Paulo. Por outro lado, não existe, do lado da direita, nenhum registro histórico de alguma organização similar. O mais próximo que a direita chegou disso foi no auge da Guerra Fria, quando os norte-americanos apoiaram golpes em diversos países, com o objetivo de estancar o avanço comunista. No mais, não existe nenhuma organização internacional que congregue os partidos de direita. Ou seja, temos aqui um perfeito exemplo de uma das dicas de Lenin aos conspiradores comunistas: “Acuse os adversários do que você faz!”.  Ainda na lógica peculiar desse pessoal que acha que a causa socialista está acima de tudo, Lenin ensinou: “Os comunistas devem lembrar-se de que falar a verdade é um preconceito pequeno-burguês; uma mentira, por outro lado, é muitas vezes justificada pelo fim”.
Mas, voltando ao Foro, uma das coisas que mais chama a atenção nesta trajetória de “sucesso” da organização foi o silêncio da imprensa por quase quinze anos em relação às Farc e o MIR. O jornalista Olavo de Carvalho foi talvez o primeiro a denunciar o caráter autoritário da organização socialista que sempre falou de democracia, mas nunca repreendeu a ditadura cubana nem os narcoguerrilheiros colombianos e bolivianos que há décadas aterrorizam suas populações. O jornalista perdeu vários empregos nos diversos veículos de comunicação nacionais por sua insistência em denunciar o perigo que tal organização representava para o futuro da democracia na América Latina. Antes mesmo da eleição de Lula 2003, Olavo já alertava que o PT chegara para ficar e que faria de tudo para não mais sair do poder. Na época, o jornalista caiu em descrédito, pois a maioria dos jornalistas brasileiros os quais não só acreditavam que o PT havia mudado, como também que não havia mais razão para “paranoias” em relação ao socialismo que até então era tido como morto e enterrado.
Para dar uma ideia do isolamento de Olavo, recentemente Reinaldo Azevedo, hoje um dos jornalistas mais atuantes no combate ao projeto de perpetuação no poder petista e do Foro de São Paulo, confessou que até ele, no início da década de 2000, achava exageradas as preocupações do Olavo de Carvalho. Pouca gente lembra, mas a Revista Veja, hoje declaradamente anti-petista, chegou a publicar matérias de capa que ajudaram a criar o mito Lula. “Lula na estrada”, “Lula light”, “O PT rosa” foram algumas das capas simpáticas que tentavam mostrar um PT mais maduro, menos radical e cada vez mais “pronto para assumir o poder”. E mesmo depois que o PT assumiu o poder a Veja continuou publicando capas simpáticas, como, por exemplo, “Triunfo histórico” e “Lula de mel”. A Veja só começou a mudar de postura em relação ao PT quando começaram a aparecer os primeiros sinais de corrupção, notadamente na CPI dos correios que levou ao Mensalão. E aí surgiu a “mídia golpista”. No entanto, para os novos idiotas úteis da militância de esquerda, a Veja sempre foi uma inimiga do PT, um instrumento da “mídia golpista”. É a estratégia da repetição: “uma mentira repetida mil vezes…”
Apesar da mudança de postura, nem mesmo a Veja teve coragem de mostrar as ligações do PT com as Farc, via Foro de São Paulo.  Talvez a primeira vez em que o tema foi tocado por um grande veículo de imprensa foi em 2006 pelo Jornalista Bóris Casoy, em entrevista ao vivo com Lula. De forma tímida, e já dizendo não acreditar nos boatos que corriam na imprensa internacional sobre um possível “eixo Lula / Fidel Castro / Hugo Chaves”, o jornalista do SBT foi deselegantemente repreendido pelo então presidente candidato à reeleição, que não só negou o tal eixo, como o “aconselhou” a não mais repetir tal insinuação. (ver aqui). E olha que o jornalista nem chegou a tocar no assunto Farc. Ou seja, Lula mentiu, da mesma forma que Hugo Chaves mentiu descaradamente quando então candidato às eleições de 1998 sobre suas já evidentes intenções autoritárias. O cara não fala uma única verdade. Tudo o que ele disse na entrevista foi desmentido pelos fatos anos depois.  (ver aqui http://www.youtube.com/watch?v=0vDZyO347rE).
E aqui já mais uma evidência do pragmatismo gramiscista/leninista de conquista do poder: vale tudo, inclusive mentir descaradamente, mesmo diante das câmeras e em cadeia nacional. Para quem não conhece, Gramsci, depois de Marx, é o grande guru da esquerda moderna. Sua proposta de conquista do poder coloca a luta armada em segundo plano (como um plano B), colocando como prioridade a silenciosa e constante revolução socialista via doutrinação nas escolas, igrejas, sindicatos e todas as demais instituições em que a militância política infiltrar-se. O poder deve ser garantido pela conquista e manutenção da hegemonia da opinião pública. Tudo deve ser feito em prol do “príncipe” (o partido). Nesta estratégia, o mensalão foi a primeira tentativa de garantir a hegemonia no Congresso. Ou seja, antes mesmo de chegar ao poder, eles já tinham um plano de subjugar um dos poderes do Estado.
Nesta ótica marxista-leninista-gramscista, a narrativa passa a ser mais importante que os fatos. E assim se constrói a espiral do silêncio, onde quanto mais minoritária uma opinião dentro de um universo social, maior será a tendência de que ela não seja manifestada.  Afinal, a maioria das pessoas tente a evitar a rejeição.  Para os indecisos, seguir a opinião repetida pela maioria é quase que uma lei da gravidade.
Neste processo, o marketing é decisivo.  Não por acaso, Duda Mendoça (e agora João Santana) passaram a ter quase que status de ministros.  Os marketeiros não só participam ativamente das “construções” dos programas políticos, como também de reuniões de cúpula em momentos críticos para definições de “narrativas” que sejam melhor digeridas pela população.
A tática funcionou muito bem. Olavo de Carvalho terminou exilado em Miami e o Foro de São Paulo continuou acontecendo sem a mínima repercussão da imprensa. É impressionante como um evento que reúne líderes de tantas as nações quase não seja noticiado.  O evento virou um tabu para a impressa, de modo que noticiá-lo passou a significar o mesmo que endossar os absurdos conspiracionistas do “jornalista de Miami”, como Lula chama o Olavo.
O tema finalmente veio à tona nas eleições de 2010 através do candidato a vice de Serra, Índio da Costa, que denunciou às ligações do PT com os narcotraficantes “revolucionários” das Farc. Mais uma vez o PT negou tudo, ganhou as eleições e Índio da Costa caiu no ostracismo da espiral do silêncio.
Só mais recentemente, em 2013, é que o Estadão publicou um editorial que aponta o fato de que os países que participam do Foro exibem os piores desempenhos econômicos do continente “em contraste com o dos integrantes da Aliança do Pacífico – México, Colômbia, Peru, Chile e, mais recentemente, Costa Rica – que colhem os resultados positivos de suas bem-sucedidas políticas de integração na economia global (…)  Tais países (os bolivarianos) padecem de um burocratismo do aparelho estatal semelhante ao que levou à falência a União Soviética e seus satélites, e que todos, apesar dos princípios pelos quais alegaram lutar, jamais lograram conquistar uma “verdadeira democracia social e de massas”. Detalhe, logo em seguida a publicação do editorial do Estadão, o Peru também caiu na desgraça de ter um presidente eleito associado ao Foro. Não por acaso, já começaram a aparecer na imprensa notícias de crise política também no Peru. (ver aqui). Será coincidência?
Não. Não é.  Da mesma forma que a alemã Elisabeth Noelle-Neumann comprovou cientificamente os métodos gramcistas quem conduzem à espiral do silêncio, por outro lado, ninguém, nem mesmo os déspotas conseguem controlar totalmente a informação.  Sempre vai haver uma brecha para a verdade vir à tona e, aos poucos, mais pessoas vão tomando consciência do que está acontecendo na América dominada pelo Foro de São Paulo. Eu, por exemplo, durante muito tempo relutei em falar sobre o assunto aqui no nosso blog, apesar das sucessivas sugestões do meu amigo Sandro Tavares que sempre me envia ótimos links e um dos responsáveis pelo sucesso do nosso blog.
Acontece que mentira tem perna curta. Primeiro o Foro de São Paulo escondeu todas as atas das reuniões que comprovavam as acusações do Olavo de Carvalho sobre a participação dos nacoguerrilheiros. Posteriormente, quando a Colômbia atacou o grupo de guerrilheiros e matou o segundo mais importante lider das Farc, Raúl Reyes, Hugo Chavez apareceu na TV lamentando a morte do amigo, descrevendo seu primeiro encontro, o qual teria acontecido no Foro de São Paulo de 1995, na mesma ocasião em que conheceu Lula. Detalhe: o próprio Hugo Chaves três anos antes já tinha tentando chegar ao poder na Venezuela via golpe de estado. Ou seja, democracia para este pessoal é pura retórica.
Mais recentemente, a revista colombiana Cambio publicou o “Dossiê Brasileño”, onde é relatado trechos de emails entre os terroristas e pessoas de confiança diretamente ligados à Lula. (ver aqui). Quantas pessoas sabem disso no Brasil?
Quase ninguém. Falar sobre este assunto é comprar briga com o PT. E comprar briga com o PT hoje no Brasil não é para qualquer um. Recentemente a deputada Jandira Feghali teve a petulância de pedir o corte de verbas publicitárias ao SBT como retaliação a jornalista Rachel Sheherazade, a exemplo do que já aconteceu com Bóris Casoy, que teve que sair da Record por pressão do PT.
Enfim, o Foro de São Paulo tem cumprido com sucesso seus objetivos de implantar governos gramcistas na América Latina, de modo que até mesmo o Chile, o país que ostenta os melhores indicadores econômicos e sociais da América Latina já está sendo contaminado pelo ideologia socialista. Desde a chegada de Michelle Bachelet ao poder, em 2005, também no Chile tem se multiplicado os protestos de rua.  E assim vão sendo plantadas as sementes do mal que hoje sufocam a Venezuela e a Argentina.
O sucesso do Foro de São Paulo só não foi completo porque surgiu a internet. Diferente de outros veículos convencionais que podem ser domesticados facilmente, a Internet tem sido o calcanhar de Aquiles dos conspiradores bolivarianos. Mesmo no Brasil, cujo processo bolivariano está menos avançado, o PT está levando uma surra em todos os canais onde o assunto é política. Isto apesar de toda a mobilização do PT para treinar sua militância paga (ver aqui). Daí a pressa do PT em aprovar o Marco Civil da Internet. Pouca gente percebeu, mas existe um ponto no projeto que multa as empresas provedoras de internet caso não retirem do ar imediatamente algum conteúdo considerado ofensivo. Acontece que quando um conteúdo cai na rede, ele é replicado por vários usuários. Fica difícil para qualquer empresa não apenas monitorar os conteúdos como retirar do ar o que for considerado ofensivo. Na prática, isso vai levar as empresas criar complicados sistemas de monitoramento que eliminarão automaticamente conteúdos que apresentarem algum indício de “conteúdo abusivo”. Aliás, isso já está acontecendo por causa dos processos sofridos por algumas empresas, por supostas “violações de direito autoral”. Para evitar novos problemas com a justiça, o Youtube, por exemplo, já colocou em prática uma programação que elimina automaticamente canais suspeitos de burlar as tais regras. Vários canais já foram vítimas injustamente da censura prévia do Google, como, por exemplo, o canalMorgatório do Pássaro. A suspensão dos canais acontece de forma automática, sem aviso prévio e sem nenhum mecanismo de defesa. Ou seja, esta é apenas uma amostra do que poderá acontecer brevemente, caso tais empresas fiquem sujeitas à graves sanções, como prevê o projeto. Para quem não sabe, as multas podem chegar a 20% do faturamento anual das empresas.
Mais recentemente, depois que a hegemonia da opinião pública foi conquistada, Lula começou a ficar mais seguro e começou a falar mais abertamente do Foro de São Paulo. No evento de comemoração dos 15 da organização, por exemplo, Lula, saudando os diversos presidentes eleitos sob as orientações do Foro, admitiu o que Olavo já denunciava há anos: “Foi preciso que nós mantivéssemos em segredo o Foro de São Paulo para que pudéssemos realizar este sonho de eleger os nossos presidentes, derrubar o capitalismo e construir o socialismo”.
Em outra ocasião (durante o Forum Social Mundial), onde Lula foi vaiado por esquerdistas mais radicais que o queriam mais “corajoso” como o Chaves, este último pediu paciência aos “companheiros” mais radicais, argumentando que o Brasil era um país mais complexo e que, portanto, o socialismo teria que ser implantado mais lentamente.
Não creio que Lula seja socialista de fato. Acho que ele é sim um oportunista que se aproveita do movimento socialista para fazer a sua carreira política. Independente disso, o fato é que dentro do PT existe uma grande parcela que continua tão radical quanto o PSOL e pressiona a cúpula do partido para avançar na agenda socialista. Infelizmente é isto que vem acontecendo. Nosso país hoje já é um dos mais intervencionistas do mundo, a exemplo da Argentina, Venezuela e demais bolivarianos. Não por acaso, no último ranking de liberdade econômica o Brasil perdeu mais 14 posições (hoje é o 114º de um total de 179 países), baixando do status “moderadamente livre” para “quase limitado”. Daí o pessimismo do mercado e a piora de todos os indicadores econômicos nos últimos anos (ver aqui).
Enfim, o Foro de São Paulo está sim conseguindo seus objetivos políticos. Economicamente é um desastre, porém politicamente já fincou sua bandeira em quase todos os países da América do Sul e em boa parte da América Central. Para a ditadura cubana, foi a salvação. Hoje a Venezuela, mesmo com toda a crise, envia para a Cuba uma mesada que equivale a 22% do PIB da ilha. O Brasil também tem dado contribuições bilionárias sob regime de “segredo de estado” (ver aqui) e assim vai ajudando a perpetuar uma das mais antigas e sangrentas ditaduras do século XX.
No próximo e último post desta série, vamos falar das táticas decididas e colocadas em prática pelo Foro de São Paulo nos diversos países onde chegou ao poder. Até lá!
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