quinta-feira, 14 de março de 2013

PSDB contra PT: uma falsa dicotomia, uma oposição inventada.








Publicado originalmente por  em 5 Feb, 2013 no observatorioconservador


Nos últimos 20 anos, assistimos a uma crescente polarização entre dois partidos políticos: o PSDB, Partido da Social Democracia do Brasil, e o PT, Partido dos Trabalhadores. Essa polarização foi construída por ambos com o intuito de transparecer a imagem de um legítimo antagonismo de idéias entre duas bandeiras políticas diametralmente opostas (supostamente), que disputam o poder no país. No entanto, se PSDB e PT opõem-se ferozmente numa luta nas urnas e nas ruas (entre seus passionais partidários), do ponto de vista ideológico, as diferenças entre os dois partidos são superficiais: o suposto antagonismo de vida ou morte não se sustenta à mais simples inspeção dos fatos.

As divergências entre PSDB e PT começaram anos após o impeachment do presidente Fernando Collor/PRN. Até aquele momento, PSDB e PT compartilhavam de apoio mútuo, explícito, por exemplo, no segundo turno da eleição presidencial de 1989, com o apoio do PSDB ao candidato do PT, Luiz Inácio da Silva, o Lula; ou no esforço conjunto no impeachment do presidente Collor em 1992; e no apoio de Lula à candidatura de Mário Covas/PSDB ao governo de São Paulo, em 1994. A partir daí, durante o primeiro mandado do presidente Fernando Henrique Cardoso/PSDB, eleito em 1994, o distanciamento entre os dois partidos foi tomando forma, e se estabeleceu por completo com as eleições presidenciais de 1998, quando FHC foi reeleito e Lula foi derrotado.

Para entender a mentalidade de um partido político e de seus membros, mais do que analisar suas ações pontuais no tabuleiro político, é preciso entender o que está na origem dessas ações, e a qual a finalidade última que se busca alcançar através delas. Sem esse tipo de análise, é impossível chegar a conclusões que vão além do que os olhos conseguem observar. Conclusões estas que quase sempre nos conduzem ao equívoco.

Quando nos propomos a investigar a sustentação ideológica do PSDB, chegamos ao iTV – Instituto Teonônio Vilella. O iTV é uma associação civil sem fins lucrativos, que atua como “o órgão de estudos e formação política” do PSDB. Em seu quadro de associados estão as principais lideranças políticas do partido, bem como seus principais teóricos e pensadores. Entre as atribuições do instituto estão a promoção da “educação e formação políticas aos filiados e candidatos do PSDB“, a prestação de “consultoria e assessoria técnica aos órgãos e dirigentes partidários“, entre outras. Trata-se, portanto, da fonte ideológica onde os tucanos bebem e banham-se.
[é imperativo] o controle social do mercado e a submissão da propriedade privada à sua função social.
Se você acha que essa frase foi retirada de alguma cartilha doutrinária do PT, PCdoB, PSTU, PSOL, ou de algum outro partido socialista ou comunista, você está completamente enganado. Ela consta da descrição dos pontos fundamentais da doutrina do PSDB, e pode ser consultada na íntegra aqui. Fica claro o viés socialista de tal afirmação; e se ela consta da descrição dos pontos fundamentais da doutrina do partido, e foi publicada pelo instituto responsável pela formação ideológica dos membros do partido, é porque o partido, fundamentalmente, segue esse viés.

Ainda nessa afirmação, podemos notar uma característica fundamental da mentalidade esquerdista: quem definirá qual será a “função social” da propriedade privada? A sociedade civil? Ou os agentes que estiverem no poder, ao prazer das circunstâncias, e com todo o aparato do Estado nas mãos? E nas mãos de um governo corrupto e centralizador, “submissão da propriedade privada” não é, de fato, a submissão da liberdade individual? Desses detalhes, a utópica mente socialista e revolucionária, convenientemente, nunca se preocupa em alertar.
Outro ponto elucidativo é a consulta à bibliografia recomendada pelo iTV, que, segundo o instituto, reúne o pensamento do partido. Na lista, encontramos títulos como “Manifesto Operário e Outros Textos Políticos – Ferdinand Lassale”, “Por que não Vingou? História do Socialismo nos Estados Unidos – Saymour Lipset e Gary Marks”, “Socialismo Brasileiro – Evaristo de M. Filho“, entre outros, que podem ser consultados aqui.

Outros dois títulos chamam a atenção, principalmente pelos seus autores: “Socialismo e Organização Política, de Juan B. Justo” – Justo foi o primeiro a traduzir O Capital, de Karl Marx, na América Latina, e foi fundador do Partido Socialista da Argentina; “A Questão Agrária, de Karl Kautsky” – Kautsky foi um dos principais teóricos e divulgadores das idéias marxistas no início do século XX. Amigo pessoal de Engels, foi um dos dirigentes da Segunda Internacional. O título em questão foi uma das primeiras obras de cunho marxista a tratar sobre a questão agrária.

É muito comum ouvir sandices, de todos os lados, sobre a orientação ideológica do PSDB. Já ouvi de eleitores do partido: “voto no PSDB porque defende idéias conservadoras”; ou então “apoio os tucanos porque são de direita, e apoiam valores como propriedade privada, etc”. Se você apoia o PSDB porque busca uma alternativa ao projeto socialista hegemônico instalado no país, sinto tê-lo desapontado. O PSDB é apenas mais um agente, e um dos responsáveis pela gradual instalação do pensamento hegemônico esquerdista que domina o nosso país.
Você pode votar no PSDB em oposição ao projeto de poder do PT. Com isso, você estará tirando o poder das mãos de um grupo, e depositando-o nas mãos de outro grupo. Porém, a vitória ideológica continuará nas mesmas mãos: nas mãos do pensamento hegemônico e do projeto socialista. E o Brasil continuará caminhando para o mesmo fim trágico, embora pelas mãos de outros agentes.

Se esse é o seu caso, você tem duas opções: ignorar tudo que foi apresentado e fingir que não é com você, ou decidir de que lado você está. Se você se opõe ao estado atual das coisas, é necessário que você busque uma OPOSIÇÃO DE FATO, e aprenda a chamar as coisas pelos seus nomes corretos. E o PSDB, em relação ao PT e ao projeto socialista, pode ser chamado de muita coisa. Menos de oposição.


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