sexta-feira, 1 de março de 2013

O surto de megalomania inspira mais uma pedagógica manchete do Diário do Comércio by Augusto Nunes


http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/files/2013/02/capa.jpg



O Diário do Comércio voltou a mostrar aos concorrentes, nesta quinta-feira, como se faz uma primeira página. AGORA, LULINCOLN DA SILVA, resume a manchete principal, ilustrada pela fotomontagem que coroa a cabeça do palanque ambulante com uma superlativa cartola ─ marca registrada do estadista que aboliu a escravidão e impediu o esfacelamento dos Estados Unidos. Subtítulo: A boa notícia é que Lula está ‘lendo muito’ (convidados da festa de 30 anos da CUT gargalharam, ao ouvi-lo’). A ruim é que ele agora encarna o presidente Abraham Lincoln.
O diário dirigido pelo jornalista Moisés Rabinovici complementa a aula com a segunda manchete: Veja o PT censurando o cartaz do Mensalão. Na foto ao lado, dois funcionários do partido carregam para os porões do Congresso um painel, instalado pela oposição, que lembra a grande roubalheira descoberta em 2005. Compreensivelmente, o ano foi excluído da exposição em que o PT festeja as proezas que jura ter protagonizado desde o nascimento em 1980.
As duas notícias ficaram fora das primeiras páginas do Estadão, da Folha e do Globo. Os três maiores jornais do país confinaram em espaços mofinos ─ e, pior ainda, trataram como se fossem coisa séria ─ duas brasileirices singularíssimas. Mesmo no País do Carnaval, não é todo dia que um surto de megalomania faz um chefe de seita enxergar Abraham Lincoln quando se olha no espelho. Nem pode ser reduzido a irrelevância rotineira o roubo de um painel que denuncia o sumiço de um ano inteiro.
São fatos que merecem manchete. E merecem o tratamento sarcástico que ilumina a primeira página do Diário do Comércio. Os vigaristas que debocham do Brasil decente reagem a acusações gravíssimas e denúncias de grosso calibre como se fossem confrontados com a previsão do tempo. Só se sentem atingidos no fígado quando o calibre da bala é engrossado pela ironia impiedosa.
Editores de jornais vivem se queixando da falta de leitores. Como demonstra o confronto das primeiras páginas desta quinta-feira, o que falta é argúcia, independência intelectual, coragem e talento.

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